Aprender com a vida no campo e levar para o campo o que se aprender na escola essa é a diretriz pedagógica do Centro de Ensino (CE) Quilombola de Formação por Alternância Ana Moreira, no povoado Santo Antônio dos Pretos, em Codó. A escola foi completamente reformada e compôs a maratona de entrega de 10 unidades requalificadas, do último fim de semana, em oito diferentes municípios do Maranhão. Melhor estruturado, agora o ambiente está apto a receber os alunos que permanecem na escola durante 15 dias em regime de internato.
“Tem um sabor especial vir aqui, em nome do governador Flávio Dino, fazer essa entrega, numa comunidade tradicional do estado, que tem essa demanda há mais de 20 anos, um projeto que estava no papel e não saia e, agora, com o investimento de mais de R$ 800 mil foi reformada. Ouvi professores e alunos narrando que não tinham condições se quer de utilizar o banheiro da escola, estava impraticável e, agora, a escola está aqui, funcional, nova em folha, para a comunidade utilizar”, relatou o secretário de Estado de Educação, Felipe Camarão, ao entregar a obra para a comunidade escolar.
A Escola por Alternância Ana Moreira atende mais de 20 comunidades quilombolas que estão nas proximidades de Santo Antônio dos Lopes oferecendo ensino regular e técnico em Agropecuária. O CE Ana Moreira esteve entre as escolas prioritárias de investimentos do Programa Escola Digna (implementado pela gestão estadual para realizar, além destas reformas, ampliação e construção de outras unidades), já que tem importância fundamental para fortalecer a autônima do povo quilombola que vive nas comunidades do entorno.
“É muito importante uma escola inaugurada numa comunidade quilombola e, principalmente, numa comunidade como São Antônio dos Pretos, que faz parte de um território central, em que fluem várias comunidades. A escola estava em condições tão precárias, que os alunos não estavam nem podendo usar. E aqui são desenvolvidas ações para ampliar a formação relacionada a produção local”, destacou o secretário de Estado de Igualdade Racial, Gerson Pinheiro, ao conversar com a população da comunidade, no ato da entrega.
Os alunos passam 15 dias residindo na escola e mais 15 dias na comunidade aplicando o que aprenderam. Para isso, é necessário um ambiente que responda a todas as necessidades de alunos e professores, como salas/quartos e banheiros amplos. Agora a estrutura teve os telhados e pisos recuperados, instalações hidráulicas e elétricas renovadas, pintura das paredes, reforma de banheiros, entre outros. E nos próximos dias estarão chegando cama e carteiras totalmente novas.
Beatriz Silva é aluna do terceiro ano, do curso de Técnica em Agropecuária, e vê na escola uma oportunidade de fortalecer a comunidade onde mora, a Santa Maria dos Moreiras. “A importância da escola por alternância é levarmos conhecimento da escola para casa e da casa para escola. Eu consigo estar perto da minha família e repassar o que aprendo aqui, dentro da escola. Antes da reforma, a escola estava abandonada e agora melhorou, essa troca de conhecimento será ampliada”, defendeu a aluna.
Escola por alternância
A metodologia foi criada por camponeses da França em 1935 com o objetivo de evitar que os filhos gastassem a maior parte do dia no caminho de ida e volta para a escola ou que tivessem que ir morar em centros urbanos para estudar. No Brasil, a iniciativa chegou com uma missão jesuíta, no Espírito Santo, em 1969. De lá para cá se espalhou e hoje é reconhecido pelo Ministério da Educação.
O CE Quilombola de Formação por Alternância Ana Moreira aplica a Alternância para 101 alunos de 1º ao 3º ano, com conteúdo adicional Técnico em Agropecuária – principal atividade das comunidades quilombolas da redondeza. Segundo a professora da escola, Nicinha da Silva Lima, este tipo de ensino é fundamental naquela região. “Veio por uma necessidade dos agricultores, que precisam dos seus filhos na lavoura no período de colheita, mas que também necessitavam que seus filhos tivessem estudo”, explicou.
Ela informou que os alunos se dividem em dois grupos, nas primeiras duas semanas do mês um grupo fica na escola, nos períodos matutino, vespertino e noturno. Nas últimas duas semanas este grupo segue para casa e o segundo grupo chega à escola. “Quem vai para a comunidade, leva atividades da escola, para ser aplicada no local. E é esse o sentido desse método pedagógico”, explicou Nilcinha.
Cinco rotas quilombolas
São Antônio dos Pretos integra o rol de comunidades que fazem parte das cinco rotas de desenvolvimento quilombola, que se constituem em um conjunto de ações envolvendo diversas secretarias do Governo do Estado, previstas no Plano Maranhão Quilombola, e que pretende promover o desenvolvimento sustentável de comunidades quilombolas. Trata-se de ações no campo da infraestrutura e qualidade de vida, desenvolvimento local e inclusão produtiva.
“Esta comunidade fará parte da Rota de Codó, chamada de Rota Rio Codozinho. Aqui vai ter o diagnostico pronto no fim deste ano e 2017 vamos ter fazer uma intervenção com todas as ações de Governo possíveis, e então a rota vai funcionar como um local de integração, que vamos tratar além da qualidade de vida, integração saúde, cultura, empoderamento social e reconhecimento enquanto quilombola”, destacou o secretário de Igualdade Racial.
As cinco rota já autorizadas são: Rota de Guaxenduba em Icatu, beneficiando 19 comunidades rurais quilombolas com cerca de 1.340 famílias; Rota do Tingidor em Itapecuru-Mirim, beneficiando 15 comunidades rurais quilombolas com cerca de 1.346 famílias; Rota do Peritoró dos Pretos, em Peritoró, beneficiando 5 comunidades rurais quilombolas e cerca de 239 famílias; Rota do Rio Codozinho, em Codó, com diagnóstico em levantamento; e Rota do Rio das Almas, em Serrano, beneficiando 17 comunidades rurais quilombolas com cerca de 201 famílias.
Segundo o secretário, os trabalhos já estão começando. Em Icatu, por exemplo, uma equipe da Secretaria de Estado de Infraestrutura já está fazendo a medição de estrada.